"Eu queria fazer um livro não da vida como ela é, mas como eu queria que ela fosse. Um livro para a gente pegar e ler quando quisesse esquecer a vida real... Eu entendo a Arte como sendo uma errata da vida. A página tal, onde se lê isto, leia-se aquilo..."

Erico Verissimo, em "Um Lugar ao Sol".

domingo, 5 de junho de 2011

Erico Verissimo por Deonisio da Silva


Erico Verissimo morreu em 1975. Tinha chegado à idade bíblica dos setenta e morreu cedo, mesmo para os padrões de expectativa de vida há trinta anos! Seu último romance foi Incidente em Antares (1971), que frequentou muitas vezes as listas dos mais vendidos naquela década. 

Quase 500 páginas, dependendo da edição, pois teve quase uma centena de relançamentos, é dividido em duas partes, a segunda um pouco mais longa do que a primeira, em que faz uma genealogia do poder das oligarquias rurais no Brasil, utilizando como quadro de referência o Rio Grande do Sul e como cenário preferencial dos eventos realistas e fantásticos a localidade de Antares. 

Erico adorava ser simples até mesmo na carpintaria de seus romances. Dá às duas partes os nomes óbvios: a primeira, Antares; a segunda, Incidente

O incidente, porém, quando chega a ocorrer vem como apanágio de um processo cujas tramas foram muito bem explicadas nas quase duzentas páginas que o prepararam. 

Na segunda parte, ganha relevo a figura do jornalista Lucas Faia, que em prosa barroca, ainda forte nas centenas de jornais do interior, narra a ressurreição de um pequeno grupo de mortos notáveis que caminha para o centro de Antares, onde revelarão os podres de altas figuras do poder local, alguns dos quais com poder de vida e de morte sobre os munícipes, mas que nada mais podem fazer contra quem já morreu!

Eis amostra do estilo do jornalista:

"Foi na última sexta-feira 13 deste cálido e, já agora, trágico dezembro. (...) A brônzea voz do sino da nossa Matriz chamava os fiéis para a missa das sete quando os sete mortos, em sinistra formatura, desceram sobre a cidade, ao longo da popular Rua Voluntários da Pátria, semeando o susto, o pavor, o pânico. (...) Uma senhora grávida, cujo nome a ética nos obriga a omitir, ao ver de sua janela a passagem dos sete defuntos ficou tão apavorada, que deu prematuramente à luz o seu bebê. (...) Com lágrimas a rolarem pelas faces alguns homens e mulheres, velhos inimigos, reconciliavam-se, esqueciam velhos e novos agravos, abraçavam-se, beijavam-se, enfim, faziam as pazes cristãmente. (...) Muitas pessoas encaminhavam-se para o confessionário, onde a presença do Pe. Gerôncio foi exigida, primeiro com calma e depois aos gritos".
Era assim que Erico escrevia. Era assim que todos o entendiam. Ele tinha uma história para contar e sabia como fazê-lo. Os leitores queriam uma história para ler e a encontravam nos livros de Erico. 

Fonte: Site Observatório da Imprensa

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